Arte-terapia para melhorar o bem-estar na universidade

“Jovens universitários enfrentam desafios que podem afetar a sua saúde mental”, diz investigadora.
Arte-terapia para melhorar o bem-estar na universidade
CIS-Iscte

Um estudo realizado no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa testou a eficácia de um workshop de arte-terapia em grupo desenvolvido para promover o bem-estar de estudantes na universidade. Os resultados indicaram um aumento do bem-estar subjetivo, caracterizado por emoções positivas (com destaque para gratidão, inspiração e relaxamento), satisfação com a vida e a redução de sentimentos negativos.

“Os jovens universitários e as jovens universitárias enfrentam desafios únicos que podem afetar a sua saúde mental” – quem o afirma é a psicóloga e investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) Patrícia Arriaga, primeira autora deste estudo. Considerando fatores como a pressão para o bom desempenho académico, mas também sentimentos de solidão, que podem causar ansiedade e sintomas depressivos, “a promoção da saúde mental em estudantes universitários é essencial para o sucesso académico e social, e também para prevenir o desenvolvimento ou o agravamento de perturbações psicológicas”, afirma Patrícia Arriaga.

Uma das formas de promover o bem-estar que tem recebido atenção na investigação é a arte-terapia. Neste sentido, em colaboração com o CIS-Iscte, o Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES-Iscte) e arte terapeutas da Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia (SPAT), foi desenvolvido um Workshop de arte-terapia para realizar em contexto de grupo dirigido a estudantes universitários e avaliado o seu impacto em 89 estudantes que aderiram à iniciativa. Em workshops de três horas, realizados por arte-terapeutas certificadas, os/as participantes exploraram diversos recursos artísticos, como som e música, imagética guiada, artes visuais, e ainda escrita criativa e encenação dramática. Para avaliar o impacto destas sessões, foi pedido a estudantes que preenchessem questionários acerca de bem-estar, estados de ansiedade e solidão, e autoconsciência antes e após o workshop. Tendo o workshop sido desenvolvido para realizar em grupo, foi ainda avaliada a perceção de coesão no grupo, em termos de sentimentos de ligação, união e sincronismo entre os/as estudantes em cada grupo. Duas a três semanas após o workshop foi avaliada novamente a solidão e a satisfação com a vida.

“De uma forma geral, após o workshop, houve um aumento significativo do bem-estar subjetivo relatado pelas pessoas participantes”, afirma a investigadora Sibila Marques (CIS-Iscte). Estes resultados foram ainda acompanhados pela redução de estados de ansiedade, sugerindo que o envolvimento nas atividades ajudou a reduzir sensações imediatas de stress e tensão. A investigadora e arte-terapeuta Raquel Freitas (CIES-Iscte, SPAT) acrescenta que “o workshop facilitou o aumento da consciência dos próprios pensamentos e sentimentos, mas também acerca do ambiente circundante e reduziu preocupações com julgamentos sociais”. Para além disso, foi registada uma redução temporária dos sentimentos de solidão, que as autoras do estudo atribuem às ligações interpessoais proporcionadas durante a atividade de grupo, atendendo ainda à elevada coesão de grupo que foi expressa pelo/as estudantes.

Porém, de acordo com a equipa de investigação, duas a três semanas após o workshop, as perceções de satisfação com a vida e de solidão regrediram aos níveis reportados antes do workshop, indicando a ausência de um efeito duradouro. “Apesar de os/as participantes terem avaliado positivamente a sua experiência e a coesão no grupo facilitada pelas terapeutas, uma única intervenção é insuficiente para o desenvolvimento pleno dos grupos e para gerar efeitos duradouros. Ainda assim, os resultados temporários positivos no bem-estar e o interesse manifestado em continuar as atividades são indicativos da relevância de prosseguir com estas intervenções em estudantes universitários”, conclui a investigadora Patrícia Arriaga. A investigadora salientou ainda a necessidade de maior investimento na saúde mental neste contexto, acompanhado de investigação que analise a eficácia destas intervenções e produzir recomendações baseadas em evidências.

Numa época em que a preocupação com a saúde mental ganha ênfase na nossa sociedade, com diferentes estratégias a serem adotadas – como é o caso dos cheques-psicólogos para estudantes universitários/as distribuídos pelo Governo – o recurso a intervenções através da arte-terpia pode ser uma das vias de promoção de bem-estar. A equipa de investigação é composta por Patrícia Arriaga, Madga P. Simões, Sibila Marques, Raquel Freitas, Helena D. Pinto, Maria Paula Prior, Sílvia Candeias e Margarida Rodrigues. O trabalho foi publicado na revista The Arts in Psychotherapy e inclui material suplementar a especificar e explicar os objetivos de cada atividade realizada no Workshop, permitido a sua replicabilidade.

Este texto é publicado n’o largo. no âmbito do projeto “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa“, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa

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