Edward Gilbert Abbott acordou naquela manhã de 16 de outubro de 1846 com um misto de apreensão e esperança. No seu reflexo no espelho, só conseguia ver o tumor que tinha no pescoço. Uma cirurgia nunca era, evidentemente, um dia banal, mas o que Abbott desconhecia era que o seu nome ficaria na história da ciência e da medicina.
Desde a antiguidade, a cirurgia tem sido uma prática crucial na medicina. Antigos egípcios, gregos e romanos realizaram procedimentos cirúrgicos rudimentares. As guerras e enfermidades ditaram as intervenções no corpo humano, infelizmente com elevada letalidade. Ao longo dos séculos houve avanços, tanto nas técnicas cirúrgicas quanto no conhecimento da anatomia do corpo humano.
Não obstante, havia o facto incontornável de que as operações eram extremamente dolorosas. O relato de uma mastectomia sem anestesia pelo médico e escritor John Brown é um testemunho pessoal e revelador, que deveria ser de leitura obrigatória para os médicos e alunos de Medicina.
No entanto, no século XIX começaram a ser testadas novas soluções, com o objetivo de aliviar o sofrimento do doente e permitir ao cirurgião executar a sua técnica com mais eficiência.
Para que não restassem dúvidas, a demonstração bem-sucedida da anestesia com éter durante uma cirurgia foi um evento público. Ocorreu no Massachusetts General Hospital em Boston, EUA. O dentista William T.G. Morton administrou éter a Edward Gilbert Abbott e o cirurgião John Collins Warren removeu parte do tumor. Após a intervenção, o doente afirmou apenas, para espanto de todos: “Sinto como se o meu pescoço tivesse sido arranhado.”
Assim deu-se início à era da anestesia moderna, revolucionando a prática da cirurgia.
Este texto é publicado n’o largo. no âmbito do projeto “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa“, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.