Segundo o Correio da Manhã, ainda não foi apresentada nenhuma proposta formal.
por Bruno Micael Fernandes
O grupo Media Capital pode estar prestes a fazer uma nova aquisição. Quem avança com a informação é o jornal Correio da Manhã.
Segundo a edição digital do matutino, o grupo que detém a TVI e a CNN Portugal estará em negociações com o grupo suíço Ringier Sports Media, que é dono do jornal desportivo A Bola, para entrar no capital do canal de televisão A Bola TV.
Ainda não está definido se a Media Capital ficará ou não com a maioria do capital do canal, mas o CM sempre vai adiantando que ainda não foi apresentada nenhuma proposta formal.
Quando contactados pelo jornal, os dois grupos de media não comentaram a notícia. Já a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) diz que "não houve até ao momento qualquer comunicação" sobre o negócio.
Comprada em 2023 pelo Ringier Sports Media Group num negócio que envolveu também o jornal A Bola e a revista AutoFoco, A Bola TV começou as emissões em 2012. Atualmente, está disponível na MEO, NOWO e Vodafone Portugal.
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Estudo mostra que identificar as notícias como falsas não impediu os participantes de as partilhar
por CIS-Iscte
Um estudo realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) explorou a complexa interação entre emoções, perceções de credibilidade e crenças prévias na suscetibilidade das pessoas a notícias falsas. O estudo clarifica processos psicológicos subjacentes à forma como as pessoas interagem com notícias na era digital.
Angela Rijo, atualmente aluna do Doutoramento em Psicologia no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, e Sven Waldzus, investigador no CIS-Iscte, quiseram compreender o que leva as pessoas a acreditar e partilhar notícias falsas e verdadeiras. Neste estudo, os investigadores exploraram em que medida as crenças políticas prévias das pessoas influenciam os seus julgamentos sobre o interesse e a surpresa que as notícias lhes despertam, bem como os seus julgamentos sobre a sua credibilidade. Além disso, analisaram a forma como essas respostas emocionais e perceções de credibilidade influenciam a probabilidade de acreditar e/ou partilhar essas notícias.
Porquê interesse e surpresa? De acordo com a equipa de investigação, “as emoções epistémicas diferem das restantes emoções porque estão ligadas a processos cognitivos relacionados com a avaliação da informação e a formação de crenças. Elas moldam a forma como respondemos a novas informações, avaliando a sua relevância, novidade e significado”. Angela Rijo explica que, de acordo com a investigação, “o interesse e a surpresa estão normalmente envolvidos na promoção da exploração do conhecimento e na prossecução de objetivos epistémicos”. Acrescenta ainda que o interesse, embora nem sempre considerado uma emoção, está relacionado com esforços atencionais no processamento da informação e pode desempenhar um papel na tendência para acreditar e partilhar uma determinada notícia. Já a surpresa consiste no espanto e admiração sentidos perante o inesperado, estando ligada à forma como as pessoas fazem previsões sobre a realidade, e podendo aumentar o valor acrescentado de uma notícia que, assim, justifica a sua partilha.
Outro conceito importante neste estudo é a credibilidade, um atributo multidimensional que engloba a confiança (perceção de fiabilidade e honestidade da fonte de informação), a imparcialidade (a neutralidade e a ausência de enviesamentos na apresentação da informação) e o rigor (minúcia e exatidão da informação fornecida). A credibilidade percebida desempenha um papel significativo na forma como a informação é processada, acreditada e partilhada. A equipa de investigação salienta a importância deste conceito para o estudo, afirmando que “as perceções de credibilidade podem também elas ser influenciadas por fatores como crenças prévias ou o facto de a informação se alinhar com os pontos de vista de cada pessoa”.
Às pessoas que participaram no estudo, foram apresentadas publicações do Facebook que partilhavam notícias falsas e notícias verdadeiras, em igual número. Após cada publicação, era pedido aos participantes que indicassem se a notícia era verdadeira ou falsa, e que classificassem o seu nível de interesse e surpresa, avaliassem a credibilidade da fonte de notícias em termos de fiabilidade, imparcialidade e rigor e indicassem a probabilidade de a partilhar.
Embora as notícias verdadeiras fossem consideradas ligeiramente mais precisas e mais suscetíveis de serem partilhadas do que as notícias falsas, os participantes tiveram ainda assim problemas em detetar as falsas. A equipa de investigação atribui este facto a um processo emocional. “As notícias falsas foram, paradoxalmente, consideradas mais credíveis, o que pode ser explicado pelo facto de a resposta emocional às notícias falsas ser mais forte”, explica Angela Rijo. Os resultados mostraram que emoções epistémicas mais fortes, nomeadamente o interesse e a surpresa, estavam associados a uma maior perceção de credibilidade das notícias. “Os participantes tendiam a confiar mais nas notícias se estas suscitassem níveis mais elevados de surpresa e interesse, independentemente de as notícias serem verdadeiras ou falsas”, acrescenta. As notícias mais credíveis tinham então mais probabilidades de serem consideradas verdadeiras e de serem partilhadas.
Participantes com opiniões mais negativas sobre o sistema político democrático consideraram as notícias apresentadas como mais credíveis e foram mais propensos a partilhá-las, em particular as notícias falsas, o que não é surpreendente, uma vez que as mesmas tratavam de imperfeições ou críticas ao sistema político (por exemplo, corrupção). De acordo com Sven Waldzus, “este comportamento pode ser motivado por questões ideológicas ou identitárias”. O que surpreendeu os investigadores foi o facto de também estas notícias terem sido consideradas não só como mais surpreendentes e interessantes, como de as suas perceções de credibilidade acrescida serem totalmente explicadas por estas emoções epistémicas.
Os resultados do estudo também mostram que identificar as notícias como falsas não impediu necessariamente os participantes de as partilharem, o que parece contradizer o senso comum, mas apoia investigações anteriores. De acordo com a equipa de investigação, as intervenções destinadas a aumentar a sensibilização para as notícias falsas podem resultar numa diminuição da crença geral, mas não necessariamente na diminuição das intenções de as partilhar.
“Embora o nosso estudo informe acerca dos processos psicológicos subjacentes à crença em notícias falsas, é essencial reconhecer algumas limitações”, alerta Angela. Nenhum dos preditores foi manipulado experimentalmente, o que dá azo a várias explicações alternativas para o padrão encontrado nos resultados. A investigação foi realizada com uma amostra específica de participantes portugueses, centrou-se em conteúdos de notícias políticas extraídos do Facebook e analisou apenas a surpresa e o interesse como emoções epistémicas. “A generalização dos resultados a populações e fontes de notícias mais amplas, bem como a exploração de outros fatores emocionais requerem mais investigação”, explica a investigadora. “Independentemente disso, os nossos resultados realçam a importância de considerarmos as respostas emocionais e as avaliações de credibilidade no combate à disseminação da desinformação e na promoção da literacia mediática na sociedade”, conclui Sven Waldzus.
Este texto é publicado n’o largo. no âmbito do projeto "Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa", promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
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Resultados sugerem a existência de múltiplos “discursos de ódio” com características psicossociais d
por CIS-Iscte
O projeto kNOwHATE, coordenado por Rita Guerra, investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte), divulgou resultados preliminares de uma análise detalhada sobre o discurso de ódio em plataformas digitais em Portugal. Com base em 24.739 comentários relativos a 88 vídeos no YouTube e 29.846 tweets extraídos a partir de 2.775 conversações extraídas do Twitter/X, os dados revelam padrões consistentes com outros estudos nacionais e internacionais.
Através de uma abordagem participativa, as entidades parceiras do projeto sugeriram vídeos do YT para análise que foram posteriormente utilizados para procurar conteúdos semelhantes através do sistema de recomendação do YouTube. Entre os critérios de seleção, a equipa do kNOwHATE salienta o facto de serem conteúdos de autores portugueses com potencial para gerar discurso de ódio contra comunidades-alvo, com pelo menos 100 comentários e 1.000 visualizações. Quanto ao X (antigo Twitter), foi utilizada uma abordagem lexical para procurar conteúdo potencialmente relevante e adotados alguns critérios de seleção (ex., o primeiro tweet estava geo-localizado em Portugal, publicação ocorrida entre 2021 e 2022).
Numa primeira fase, as análises dos milhares de comentários analisados e codificados por uma equipa de anotadores focaram-se em identificar a prevalência de discurso de ódio, direto e indireto, discurso ofensivo, e contradiscurso. Rita Guerra, coordenadora do projeto, explica as diferenças entre estes tipos de discurso: “O discurso de ódio direto difunde, incita, promove ou justifica explicitamente o ódio, a exclusão e/ou a violência/agressão contra um grupo social ou uma pessoa devido à sua pertença grupal; é um discurso explicitamente preconceituoso e inflamatório, que normalmente contém linguagem ofensiva, abusiva ou depreciativa. O discurso de ódio indireto faz exatamente a mesma coisa, mas neste caso a mensagem não é explícita, podendo ser velada ou mascarada através de uma diversidade de estratégias, como o humor, ironia, ou até elogios estereotípicos. Por estas razões, o seu significado tem de ser inferido. O contra-discurso é uma resposta direta ao discurso de ódio com o objetivo de o combater”.
Os dados preliminares do projeto indicam que, em ambas as redes, o discurso de ódio indireto foi mais prevalente do que o discurso de ódio direto nas diferentes comunidades analisadas. Tal como esperado, o discurso de ódio direto e indireto apresentaram características e expressões diferentes, por exemplo o discurso de ódio direto foi mais frequentemente expresso através da mobilização da ameaça e da desumanização das comunidades alvo, enquanto o discurso de ódio indireto mobilizou mais frequentemente estratégias de negação do ódio e de inversão de papéis. Foram ainda analisadas as emoções presentes nos diferentes tipos de discurso de ódio: no discurso de ódio direto o ódio foi a emoção mais frequente, seguido da raiva; já no discurso de ódio indireto o padrão foi o inverso, sendo a raiva a emoção mais prevalente, seguida do ódio.
De acordo com a equipa de investigação, estes resultados sugerem a existência de múltiplos “discursos de ódio” com características psicossociais e linguísticas diferenciadas, variando consoante as comunidades visadas. Por exemplo, a raiva foi mais prevalente no discurso de ódio contra as comunidades LGBTI+, e o ódio foi mais prevalente no discurso contra as comunidades Ciganas/Roma e Migrantes. Apesar destas nuances, há elementos comuns nos discursos de ódio contra todas estas comunidades, como por exemplo a utilização de estereótipos e a desumanização.
Numa nota mais positiva, nem tudo parece estar perdido. Em ambas as redes foi ainda analisado o contra-discurso, tendo este sido pouco frequente no Youtube mas destacando-se como o discurso mais prevalente no Twitter/X. No geral, os resultados mostram um padrão semelhante em ambas as redes, sendo o contradiscurso caracterizado maioritariamente pelo recurso a contra-estereótipos (ex., “Olá já procuraste alguma vez te informar com factos verídicos acerca dos subsídios declarados para a comunidade cigana? Penso que não mas tens vários sites que o podem provar a tua gigantesca burrice disfarçada de preconceito étnico. Se precisares até eu posso te mandar alguns”, à empatia (“Geralmente em vez de tentar explicar o q é o género ou sexo, prefiro ir só pelo argumento, deixem as pessoas ser o que lhes faz feliz, se não estiverem a magoar ninguém” e à referência a identidades inclusivas (“Somos a raça humana e temos de saber viver juntos neste mundo. Em vez de nos focarmos nas nossas diferenças, vamo-nos focar no que temos em Comum”).
No geral, os resultados obtidos com a anotação de dezenas de milhares de comentários e tweets sugerem claramente que a compreensão do discurso de ódio obriga a abordagens contextuais, culturalmente sensíveis, que considerem as nuances contextuais e linguísticas que por agora ainda escapam aos algoritmos. Por isso mesmo, estes dados são úteis para informar o desenvolvimento de algoritmos mais sensíveis a estas pistas contextuais e culturais. Parte da equipa do projeto trabalhou efetivamente em modelos computacionais que possam melhorar os algoritmos de deteção atuais. Rita Guerra está confiante que este projeto servirá como primeiro passo para melhorar a compreensão deste fenómeno complexo, que por sua vez poderá contribuir para uma melhoria na deteção automática do discurso de ódio online em Portugal, bem como para uma maior sensibilização sobre este fenómeno e as formas de o combater.
“Estes resultados preliminares destacam a complexidade e a variedade do discurso de ódio online. É crucial entender estas dinâmicas para desenvolver estratégias eficazes de combate ao ódio e promoção de um ambiente digital mais seguro e inclusivo.”, explica a coordenadora do projeto. Para além de oferecerem uma visão integrada e culturalmente sensível sobre a prevalência e a natureza do discurso de ódio nas redes sociais, estes resultados do projeto kNOwHATE sublinham a importância de iniciativas de contradiscurso para mitigar os impactos negativos sobre as comunidades afetadas.
Os resultados globais do projeto, bem como o seu impacto, serão apresentados e discutidos a 9 de julho de 2024 numa conferência que decorrerá no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa sob o título “Discurso de Ódio Online em Portugal: Que Presente e Que Futuro?”. O projeto kNOwHATE (kNOwing online HATE speech: knowledge + awareness = TacklingHate) é um consórcio financiado pela União Europeia (CERV-2021-EQUAL 101049306) composto por quatro unidades de investigação do Iscte (BRU, CIS, CIES e ISTAR), o Interactive Technologies Institute (LARSyS, Instituto Superior Técnico), o INESC-ID Lisboa, a Casa do Brasil de Lisboa, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, a Associação ILGA Portugal, e SOS Racismo.
Este texto é publicado n’o largo. no âmbito do projeto "Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa", promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
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“As dificuldades associadas a manter o controlo desses múltiplos estados podem ser significativas”,
por CIS-Iscte
Um estudo realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) explorou como as pessoas processam as mudanças de estado de um objeto durante a compreensão da linguagem. Os resultados podem melhorar a nossa compreensão da linguagem e informar modelos teóricos de cognição de eventos.
Segundo os autores Oleksandr Horchak e Margarida Garrido, investigadores do CIS-Iscte, estudos no campo da psicolinguística (área da psicologia que investiga os processos linguísticos) têm explorado como as pessoas processam mudanças nos estados dos objetos durante a compreensão da linguagem. Por exemplo, o que acontece quando lemos uma frase sobre alguém escolher uma banana vs. pisar uma banana?
“Os nossos cérebros são sensíveis às mudanças de estado dos objetos, e as dificuldades associadas a manter o controlo desses múltiplos estados podem ser significativas”, explica Oleksandr Horchak. “Por exemplo, estudos anteriores mostraram que as pessoas levavam mais tempo para verificar uma imagem de uma banana no seu estado original depois de ler uma frase como ‘O João pisou uma banana’ do que depois de ler uma frase como ‘O João escolheu uma banana’. O inverso foi observado para a imagem de uma banana num estado modificado (esmagada), para a qual as pessoas eram mais rápidas após a primeira frase (pisou) do que a segunda (escolheu).” Mas existirão outras consequências de ter de acompanhar estes diferentes estados do mesmo objeto?
“O objetivo do nosso estudo foi determinar se as pessoas são sensíveis aos estados de objetos semanticamente relacionados, como uma manga e uma banana, durante a compreensão de eventos”, afirma Margarida Garrido. A investigadora acrescenta que “há evidências substanciais que indicam que, quando as pessoas fornecem uma resposta ‘não’ neste tipo de tarefas, os seus tempos de resposta são reduzidos para objetos altamente relacionados. Por exemplo, é difícil dizer que “banana” não foi mencionada numa frase que faz referência a uma fruta relacionada, como “manga”. No entanto, o que permanece por esclarecer é até que ponto as respostas serão mais lentas dependendo do estado assumido do objeto relacionado (estado original da manga vs. estado modificado da manga)”. Por outras palavras, a equipa de investigação quis desvendar se o tempo necessário para decidir que uma banana não foi mencionada na frase (resposta ‘não’) aumenta quando os eventos descrevem uma mudança substancial, como em ‘O João pisou uma manga’.
Nas experiências deste estudo, participantes leram frases sobre mudanças no estado dos objetos (“O João escolheu/pisou uma manga” ou “A Joana escolheu/pisou uma lâmpada”) e, em seguida, viram uma imagem de um objeto (“banana”). Tinham de decidir se esse objeto tinha sido mencionado na frase anterior. De acordo com a previsão, os resultados mostraram que os tempos de verificação para uma banana foram mais longos após a leitura de uma frase descrevendo uma mudança substancial de um objeto relacionado (‘O João pisou uma manga’) em comparação com uma frase que descrevia uma mudança mínima (‘O João escolheu uma manga’). É importante salientar que os tempos de verificação para uma banana não foram afetados após a leitura de uma frase que fazia referência a uma mudança substancial de um objeto completamente não relacionado (“O João pisou uma lâmpada”). Isto exclui a possibilidade de que o tipo de verbo por si só (por exemplo, verbos de ação, verbos estáticos) possa lentificar as respostas das pessoas independentemente do objeto mencionado na frase.
Para a equipa de investigação do CIS-Iscte, o estudo fornece evidências de que as pessoas são sensíveis aos múltiplos estados de objetos semanticamente semelhantes, sugerindo que compreender eventos envolve a construção de representações dinâmicas de histórias de objetos que se cruzam. “Estes dados são importantes para um melhor entendimento dos processos cognitivos envolvidos na compreensão da linguagem e na representação mental de eventos através da integração de informação visual e linguística”, concluem Oleksandr Horchak e Margarida Garrido.
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