Medida inclui outros meios de comunicação europeus e é uma retaliação contra o bloqueio de meios rus
por Bruno Micael Fernandes
São "medida de retaliação contra as restrições da União Europeia (UE) contra os media Russos".É desta forma que o ministro russo dos Negócios Estrangeiros Seguei Lavrov descreve os bloqueios de diversos meios de comunicação social europeus, colocado em prática em território russo esta terça-feira, e que inclui quatro meios de comunicação social portugueses.
Os sites da RTP, Público, Expresso e Observador estão assim bloqueados em território russo, assim como o de mais 77 órgãos de comunicação europeus, incluindo órgãos de serviço público de rádio e televisão.
Segundo a nota de imprensa publicada ao início desta tarde, o bloqueio é uma resposta à decisão do Conselho Europeu em bloquear os meios de comunicação social russos. Na nota, Lavrov considera que os meios agora bloqueados "divulgam sistematicamente informaçoes falsas sobre a operação militar especial", termo usado pelas autoridades russas para descrever a guerra que o país trava contra a Ucrânia, e acusa os países da UE de escalar a situação: "Ao imporem mais uma proibição ilegítima, obrigaram Moscovo a introduzir contramedidas simétricas e proporcionais. A responsabilidade por estes desenvolvimentos cabe exclusivamente à direção da UE e aos países desta associação que apoiaram esta decisão", acrescenta. Lavrov acrescenta que a medida segue-se a um aviso repetido "a vários níveis" de que "a perseguição politicamente motivada de jornalistas russos e as proibições injustificadas de meios de comunicação social russos na UE não ficariam sem resposta", mas que o bloqueio seria "revisto", se as restrições impostas aos meios de comunicação social forem levantados.
O bloqueio dos 81 órgãos de comunicação social estende-se aos seus sites e acesso às respetivas edições online e emissões, incluindo às emissões via satélite, e teve como alvo todos os meios de comunicação públicos a nível da UE.TVE, RAI, NOS ou Radio France são alguns dos meios de comunicação também alvo do bloqueio.
A medida russa surge depois da UE ter proibido a atividade de meios de comunicação ligados ao KremlinVoz da Europa, sediada nos Países Baixos, a agência de notícias RIA Novosti e os jornais Izvestia e Rossiyskaya Gazeta, por estarem "sob o controlo permanente, direto e indireto" do estado russo.
Desde fevereiro de 2022 que a Federação Russa tem proibido vários meios de comunicação nacionais e estrangeiros de operar ou emitir no país, acusando-os de "propaganda" e espalharem informações falsas.
Encontraste um erro ou uma gralha? Envia-nos uma mensagem para webmaster@olargo.pt.
“Maria” estreia em setembro na plataforma de streaming.
por Bruno Micael Fernandes
Vai mostrar "o lado mais pessoal e desconhecido da vida da apresentadora, assim como a sua grande família de oito irmãos, a avó Dulce, por quem sente um carinho muito especial, as amigas de infância, a relação com Francisca, a filha mais velha, dando também a conhecer o filho mais novo, João".
É desta forma que a Amazon Prime Video descreve a sua nova aposta em conteúdos portugueses: "Maria" é um documentário sobre a apresentadora portuguesa Maria Cerqueira Gomes e que chega à plataforma em setembro.
Produzido pela produtora espanhola ¡HOLA! Media, detido pelo mesmo grupo de media da revista ¡HOLA!, o documentário vai debruçar-se sobre a carreira da apresentadora da TVI, contando com testemunhos de Cláudio Ramos, Cristina Ferreira, Manuel Luís Goucha e Rúben Rua, além de se focar no lado mais pessoal, revelando como Cerqueira Gomes começou a relação com o toureiro espanhol Cayetano Rivera, "o que mais gosta no toureiro e se gostaria de ser mãe novamente", refere a plataforma.
"Maria" vai estar disponível na plataforma de streaming "como parte da subscrição Prime", estando também prevista a sua transmissão numa das plataformas da TVI.
O documentário junta-se ao portfólio de produções portuguesa da plataforma, como as novas temporadas de "Morangos Com Açúcar", "A Lista", "Operação Maré Negra" ou "Senhor Presidente - O Campeonato de Uma Vida".
Encontraste um erro ou uma gralha? Envia-nos uma mensagem para webmaster@olargo.pt.
Investigador David Magalhães fala sobre a ascensão da extrema-direita nas eleições europeias em entr
por Agência Pública
Esta é uma republicação integral em português do Brasil de um artigo da autoria de Andrea Dip, Clarissa Levy, Ricardo Terto e Stela Diogo e disponibilizado originalmente no site da Agência Pública.
O crescimento da extrema direita no Parlamento Europeu após as eleições deste ano, com partidos extremistas como o espanhol Vox, o alemão AfD e o português Chega!, indica uma insatisfação dos europeus com a política, analisa o professor David Magalhães. Doutor em relações internacionais, Magalhães tem concentrado suas pesquisas no tema da transnacionalização da direita radical e na política externa de governos ultradireitistas.
Em entrevista ao podcast Pauta Pública, Magalhães discute a capacidade da direita de conseguir capturar o sentimento de insatisfação com o sistema, não só na Europa, mas também no Brasil e nos Estados Unidos. Para ele, apesar das diferenças nas plataformas eleitorais em cada país, as eleições europeias “impactam e dão uma certa revitalidade aos grupos de extrema direita brasileira que comemoraram a vitória dos europeus no Parlamento”.
Na discussão, Magalhães ressalta que, do ponto de vista das “direitas”, a Europa é historicamente muito distante do Brasil. Por isso, desde a redemocratização, o movimento brasileiro tem se espelhado na direita americana. Atualmente, essa tendência continua, com o alinhamento a Donald Trump e ao movimento nacional populista, buscando replicar a sua forma e conteúdo.
Leia os principais pontos da entrevista e ouça o podcast completo abaixo.
[Andrea Dip] Aqui, na Alemanha, percebemos nitidamente como a questão migratória tem sido significativa para o avanço da extrema direita. Ao menos desde 2014, essa xenofobia foi intensificada e deu mais poder para a extrema direita. Nas minhas investigações, eu tenho percebido como esses discursos xenófobos têm se tornado cada vez mais violentos. Como, por exemplo, os discursos do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Como esse aumento do discurso violento e anti-imigração interfere nessas eleições?
No caso da Alemanha, a AfD foi fundada em 2013 por ex-membros do partido da ex-primeira-ministra Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU). Esse momento, segundo o cientista político holandês Cas Mudde, é chamado de “quarta onda”, onde houve uma normalização das ideias e práticas da ultradireita. Tudo aquilo que era visto como marginal foi trazido para o centro, moldando o comportamento dos partidos tradicionais de direita. Já na Espanha, o partido Vox foi fundado por ex-membros do Partido Popular (PP), que é historicamente de centro-direita. Esse partido é conservador, mas tradicional, assim como a CDU alemã. Em um primeiro momento, o AfD tinha pautas mais econômicas, com um perfil mais tecnocrático, porque seus membros eram economistas de carreira. Esses membros tinham discursos fundamentalmente contra a zona do euro e contra a ajuda que a Alemanha vinha dando para países que foram abalados pela crise econômica financeira, como a Grécia e a Espanha. Com a crise migratória de 2014 e 2015, quando houve um influxo significativo da população vinda do Oriente Médio (especificamente sírios e afegãos), houve um impacto grande na mudança da agenda dessas organizações. Não digo que a AfD já tinha uma agenda nativista [política de favorecer os habitantes nativos de algum país], xenófoba e anti-imigração, mas o fluxo migratório potencializou e redirecionou a agenda para um aspecto que tornou-se a principal ênfase da AfD de 2014 em diante. A partir disso, surgiu o Der Flügel, ala mais próxima à extrema direita neonazista alemã, que tem muita força na região da Turíngia, na Alemanha Oriental. A mesma coisa aconteceu na Hungria. A plataforma eleitoral de Viktor Orbán em 2010, ano em que foi eleito, era basicamente o discurso contra o Partido Social Democrático que havia ficado por oito anos no poder. A corrupção do Partido Social Democrático é vinculada à crise econômica de 2009, que foi muito impactante para o país. À época, ainda não havia a questão da imigração no discurso de Orbán. Isso muda de maneira substancial após seu segundo mandato, quando a Hungria vira um dos corredores de imigração porque alguns refugiados acabaram ficando (ainda que de maneira provisória) quando passaram pela fronteira com a Sérvia. O país tinha menos de 1% de população imigrante, ou seja, boa parte da população do país não sabia exatamente o que era imigração. Orbán começou a mudar a sua agenda do ponto de vista do nativismo e xenofobia, da política de imigração. Ele aprofundou essas conexões entre a ideia de uma identidade húngara tradicionalista e católica, ameaçada pelos imigrantes. Ele passa a culpar as forças internacionais por apoiar o processo migratório. A figura do filantropo George Soros, um judeu húngaro, aparece justamente como “bode expiatório” da destruição da identidade húngara. A partir disso, houve uma campanha muito forte contra as ONGs que protegem refugiados. No Brasil, a direita radical não tem agenda nativista e xenofóbica porque a imigração não é uma questão de relevância. No país também temos taxas de imigração abaixo de 1%, em termos de refugiados e imigrantes. Temos muito mais a agenda xenofóbica inter-regional, que seria o preconceito contra pessoas de origem nordestina. O preconceito no Brasil com imigrantes já aconteceu na região Norte do país com refugiados venezuelanos. Mas aqui o nativismo e xenofobia não fazem parte da pauta porque realmente a imigração não é um tema da conjuntura brasileira.
[Andrea Dip] Sabemos que existem diferenças entre a extrema direita na Europa e no Brasil, como, por exemplo, a agenda da xenofobia posto por você. Mas também existem as semelhanças. Quais conexões você vê entre a extrema direita europeia e a brasileira?
Primeiro, eu queria tentar distinguir o que é a extrema direita europeia, porque podemos compreender nessa extrema direita qual parte mais se aproxima da brasileira. Por exemplo, eu vejo uma diferença muito grande ao comparar Holanda e França, porque são dois países que têm uma cultura secular, laica, com tradição liberal iluminista muito forte. De maneira que o discurso de um nacionalismo de identidade religiosa pega muito pouco nesses países. Eu estou acompanhando bastante a campanha do Jordan Bardella, estrela da direita radical francesa, que pode se tornar o primeiro-ministro francês durante as Olimpíadas. O candidato francês praticamente não comenta questões como ideologia de gênero, destruição da família tradicional etc. Não há discurso anti-LGBTQIA+ e antiaborto (aprovado como direito constitucional na França). O mesmo acontece na Holanda. Geert Wilders, do Partido da Liberdade (PVV), que agora está formando o governo, em momento algum usa discurso religioso ou cristão. Mas, se pegarmos países que têm um contexto histórico religioso e cristão, como o caso da Hungria, Polônia, Espanha e Itália, conseguimos encontrar alguns traços muito parecidos com a direita radical brasileira. A direita do nosso país fez algo no contexto do bolsonarismo, falar de cristianismo e não falar de catolicismo nem de protestantismo. Ou seja, foi uma aliança de conveniência que aconteceu às vésperas da ascensão do Bolsonaro como força política. Antes de Bolsonaro surgir como candidato à unificação dos dois grupos, o Olavo de Carvalho vivia atacando o Edir Macedo e os grupos neopentecostais e os pentecostais no Brasil, houve uma aliança para viabilizar essa candidatura religiosa cristã brasileira. Esse é um traço muito comum que possibilita a interlocução global desses grupos. Eduardo Bolsonaro tornou-se, de certa forma, o elemento de internacionalização da direita brasileira. Foi ele quem se aproximou do Steve Bannon junto com Filipe Martins, que está preso agora, mas foi assessor de relações internacionais da Presidência. As duas figuras transnacionalizaram as relações do bolsonarismo com grupos e organizações de ultradireita. Eduardo Bolsonaro se aproximou do partido português Chega!, de André Aventura, e também do partido espanhol Vox, de Santiago Abascal. Inclusive, o Brasil faz parte de uma organização conhecida como Fórum de Madri. Essa organização teria sido criada para ser uma oposição ao Foro de São Paulo – suposta organização de esquerda de teor conspiracionista – porém o Fórum de Madri é uma organização de direita conservadora, claramente radical. A reivindicação de uma identidade mobiliza um senso de cristianismo e tradição de família católica ou protestante. O caso brasileiro oscila de um lado para o outro, mas de certa forma reivindica a mesma tradição cristã. Ou seja, a ideia de identidade não é nacional secular, como é observado na França ou Holanda, é uma identidade que quer recuperar uma tradição cristã. Como é visto na discussão em torno do aborto no país, esse elemento vem de uma reivindicação identitária cristã muito importante nesses grupos.
[Andrea Dip] David, você trouxe alguns elementos muito importantes. Eu gostaria de saber como as eleições europeias refletem no Brasil?
Eu ouvi alguma militância digital de grupos bolsonaristas celebrando a vitória da direita radical, embora eles não entendam exatamente essas diferenças relatadas. No momento que souberem que o partido de Marine Le Pen, a Rassemblement National, é em massa a favor do aborto, vão começar a chamá-la de esquerdista. A visão que eles têm é de um grupo conservador crescendo. Independente de essa percepção ser verdadeira ou não, ela impacta e dá uma certa revitalidade a esses grupos, como se houvesse uma janela de oportunidades de crescimento. Não estamos diante de uma direita conservadora normal, mas de grupos verdadeiramente extremistas e hostis à democracia. Eu acredito que existem alguns elementos que fortalecem os movimentos com um discurso geralmente contra o sistema. A direita populista radical na Europa adota uma postura que é, em certa medida, contra o sistema, envolvendo tanto a centro-esquerda quanto a centro-direita. As eleições europeias têm mostrado isso: há um cansaço com o pêndulo centro-esquerda e centro-direita. Os problemas também advém da democracia liberal, que se mostrou bastante incapaz de resolver problemas fundamentais de origem social, econômica e de desigualdade. Há uma sensação de insatisfação. Houve, por mais de uma década, uma coalizão na Alemanha entre centro-esquerda e centro-direita com o Partido Social-Democrata (SPD) e a União Democrata Cristã (CDU), que governaram juntos desde a época da Alemanha Ocidental. Na Espanha, com o Partido Socialista Obrero (PSOE), há a mesma alternância entre os dois grupos. Existe uma sensação de desgaste geral em relação ao sistema, o consenso liberal que une centro-direita e centro-esquerda está sendo questionado. A esquerda não conseguiu capturar essa energia. Já a direita consegue capturar esse sentimento na Europa, Estados Unidos e também aqui no Brasil. Esse é um ponto que tende a reforçar o discurso antissistema. Porém nada se compara com a possibilidade de Donald Trump vencer as eleições americanas. O cenário eleitoral nos Estados Unidos tende a ser muito mais impactante para a direita brasileira do que o cenário europeu. A Europa, do ponto de vista “das direitas” é muito distante historicamente, por isso a direita brasileira tem mimetizado a direita norte-americana. Desde o processo de redemocratização, o principal farol das nossas direitas radicais tem sido os EUA. Desde o período do neoconservadorismo, com o ex-presidente americano George W. Bush e a Guerra do Iraque, até quando a direita começa a virar uma direita nacional populista com o também ex-presidente Donald Trump. Inclusive, a extrema direita tenta copiar a forma e o conteúdo da alt-right que ascende com o supremacista branco Richard Spencer. Em termos de pacto, temos que prestar muito mais atenção no que vai acontecer nas eleições dos Estados Unidos agora no final do ano do que nas eleições europeias. A Europa é vista como algo muito distante da direita radical brasileira.
Este artigo foi originalmente publicado no site da Agência Pública e republicado na íntegra n'o largo. ao abrigo da licença Creative Commons CC BY-ND 4.0.
Encontraste um erro ou uma gralha? Envia-nos uma mensagem para webmaster@olargo.pt.
Estudantes serão “capazes de analisar o conceito de sustentabilidade à escala urbana”, diz a institu
por Bruno Micael Fernandes
É uma nova licenciatura que pretende ajudar na luta contra as alterações climáticas e na transformação das cidades. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) vai apostar na licenciatura em Cidades Sustentáveis e Inteligentes já no próximo concurso de acesso ao ensino superior, anunciou a instituição transmontana.
Numa nota enviada às redações, a universidade refere que o curso terá um "plano de estudos multidisciplinar" com uma "componente prática que permitirá contactar com a investigação mais recente nesta área da sustentabilidade urbana e usufruir de protocolos com diversas instituições públicas e privadas", dando aos estudantes a capacidade de "analisar o conceito de sustentabilidade à escala urbana": "Os futuros licenciados poderão ingressar em empresas de estudos e projetos com responsabilidades no planeamento, conceção e gestão sustentável, administração central e regional, associações de municípios, autarquias e empresas municipais, agências governamentais, de Ambiente ou de Desenvolvimento Local", acrescenta.
A nova licenciatura insere-se na estratégia da UTAD de se tornar uma universidade mais sustentável: "Esta nova oferta formativa vai ao encontro da missão da UTAD em responder às exigências de um mundo em constante mutação e onde os processos de inovação e tecnologia são cada vez mais focados no desenvolvimento sustentável", refere Emídio Gomes, reitor da UTAD, acrescentando que a instituição tem em marcha "estratégias para fazer do nosso campus um laboratório vivo" algo que "permite a estudantes, docentes e não docentes contribuir para o desenvolvimento sustentável de um espaço com mais de 130 hectares, 20 edifícios e cerca de 10 quilómetros de vias".
O ciclo de estudos da licenciatura em Cidades Sustentáveis e Inteligentes tem a duração de três anos e será uma das 38 opções que a instituição terá disponíveis para o concurso nacional de acesso, que decorre entre 22 de julho e 05 de agosto.
Todas as informações sobre o novo curso estão disponíveis no site da instituição.
Encontraste um erro ou uma gralha? Envia-nos uma mensagem para webmaster@olargo.pt.
Artigo pretende apelar a uma “reflexão sistemática sobre a relação entre representação e ação"
por CIS-Iscte
Um estudo teórico realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) apresenta uma análise comparativa de duas teorias do comportamento social para explorar a forma como as pessoas se relacionam com o futuro e as implicações daí decorrentes. O estudo informa sobre as perspetivas únicas de cada teoria e o potencial de integração interdisciplinar relativamente a fenómenos com importantes impactos sociais, como a crise climática e a transição para as energias renováveis.
Com este estudo, Ross Wallace, estudante do Doutoramento em Psicologia no Iscte- Instituto Universitário de Lisboa, e Susana Batel, investigadora no CIS-Iscte, abrem caminho para uma conceptualização mais matizada e sistemática da forma como as pessoas representam o futuro e com que consequências. “As atuais questões sociais, como a crise provocada pelas alterações climáticas e a necessidade de descarbonizar os sistemas energéticos, são muito complexas e exigem uma conceptualização que considere como as pessoas se envolvem com o futuro” Ross Wallace começa por explicar. De acordo com o investigador, as consequências destes problemas frequentemente não são imediatas e podem acontecer apenas num futuro distante, o que pode representar um desafio para os comportamentos sociais.
No artigo, a equipa de investigação centrou-se em duas principais teorias: a teoria sócio-psicológica das representações sociais e a teoria francesa da sociologia pragmática do envolvimento e da crítica (também conhecida como teoria das convenções). Susana Batel esclarece que a primeira “realça a natureza social da construção de significados e as formas reflexivas e intencionais de como os indivíduos representam o futuro”, enquanto a segunda “oferece uma conceptualização mais elaborada do modo como as pessoas se envolvem de forma prática com o mundo, incluindo as suas interações com o futuro e as dimensões que influenciam a construção de futuros coletivos”.
Ao comparar e sintetizar a teoria das representações sociais e a teoria das convenções, a equipa de investigação sublinha a importância de analisar as representações do futuro no contexto das dinâmicas de poder da sociedade, entre os sistemas político-especializados e o público, e das necessidades de mudança disruptiva para resolver queixas e injustiças coletivas. Especificamente, os autores argumentam que, integrando os conhecimentos de ambas as teorias, a comunidade de investigação pode compreender melhor a forma como as pessoas negoceiam e co-criam o futuro, particularmente no contexto de questões sociais prementes como as alterações climáticas e a descarbonização das sociedades.
Por exemplo, considere-se a questão ambiental da subida do nível do mar e a ameaça que pode representar para as pessoas no futuro. A teoria das representações sociais analisaria a forma como os indivíduos e as comunidades constroem representações da subida do nível do mar, mas também a forma como as pessoas comunicam e negoceiam significados relacionados com esta questão ambiental, considerando fatores como a influência dos meios de comunicação social, as crenças culturais e as interações sociais na formação das perceções da ameaça. Em alternativa, a teoria das convenções centrar-se-ia na forma como os diferentes atores sociais se envolvem, na prática, com o problema da subida do nível do mar, nomeadamente examinando as implicações materiais desta questão para as comunidades, as orientações morais que guiam as respostas à subida do nível do mar e as temporalidades envolvidas no planeamento e na adaptação às paisagens costeiras em mudança. “Pensamos que, ao combinar os pontos de vista de ambas as teorias, os investigadores e as investigadoras serão mais capazes de compreender e abordar a forma como as pessoas lidam com questões sociais futuras, e de uma forma normativamente orientada para o bem comum”, afirma Susana Batel.
“Com este artigo, apelamos a uma reflexão sistemática sobre a relação entre representação e ação, ao mesmo tempo que enfatizamos a agência das pessoas na formação e transformação das representações sociais através da comunicação e do discurso”, conclui Ross Wallace.
Este texto é publicado n’o largo. no âmbito do projeto "Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa", promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
Encontraste um erro ou uma gralha? Envia-nos uma mensagem para webmaster@olargo.pt.