Esta é uma republicação integral em português do Brasil de um artigo da autoria de Mariama Correia e disponibilizado originalmente no site da Agência Pública.
Foram quatro horas e meia de conversa. Mulheres de vários países se reuniram numa videoconferência e quebraram anos de silêncio. Esta é a primeira vez que as pesquisadoras, reunidas em um coletivo internacional, relatam publicamente violências e assédios que teriam sofrido de Boaventura de Sousa Santos. Até agora, elas vinham mantendo suas identidades e histórias em sigilo.
Sete integrantes do coletivo, formado por 14 mulheres ao todo, aceitaram participar da entrevista exclusiva com a Agência Pública: Carla Paiva, Eva García Chueca, Gabriela Rocha, Aline Mendonça, Mariana Cabello, Élida Lauris e Sara Araújo. Seus relatos envolvem denúncias de assédio sexual e moral, abuso de poder, violência verbal e extrativismo intelectual – ou seja, uso do trabalho das pesquisadoras sem reconhecimento de autoria nem remuneração. Os casos relatados teriam ocorrido quando elas estudavam ou trabalhavam no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, que foi dirigido pelo professor e sociólogo de renome internacional por muitos anos.
Os relatos delas descrevem também um ambiente tóxico, de medo e silenciamento dentro do CES. As pesquisadoras dizem que os comportamentos impróprios do professor eram normalizados e até abafados dentro do centro acadêmico.
Denúncias contra Boaventura começaram há um ano
As primeiras acusações contra o sociólogo, que tem livros publicados em vários países, vieram à tona em março de 2023, no capítulo de um livro com relatos de assédio sexual e moral. O texto protegia a identidade das denunciantes e não citava nominalmente Boaventura, chamado apenas de “professor-estrela”.
Foi o próprio Boaventura que assumiu ser o “professor-estrela” e classificou as denúncias como “vingança”. Em abril de 2023, a Pública revelou, com exclusividade, a história da deputada federal Bella Gonçalves (PSOL-MG), que contou ter sofrido assédio sexual do professor quando foi orientanda de doutorado. Em abril do ano passado, o professor português e o pesquisador, que foi seu assistente, Bruno Sena Martins, se afastaram voluntariamente das atividades no CES. O centro acadêmico também constituiu uma comissão independente para investigar as acusações.
Apenas em março deste ano, essa comissão independente divulgou um relatório onde reconhece “padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES”. Em seguida, o CES publicou uma carta aberta pedindo desculpas públicas às pessoas que se consideram vítimas de comportamento de assédio ou abuso no contexto de suas atividades. A carta não cita o nome do professor.
Também em abril deste ano, o Ministério Público de Portugal abriu um inquérito baseado no relatório da comissão independente do CES e nas denúncias feitas pelo Coletivo de Vítimas de Boaventura, que até agora se pronunciava publicamente apenas em cartas anônimas. O inquérito está em curso.
As pesquisadoras ouvidas disseram à Pública que decidiram sair do anonimato por justiça. Elas afirmam que as violências que relataram atravessaram sua autoestima e suas carreiras de um modo irreversível. Muitas falaram de danos psicológicos permanentes, crises de ansiedade, depressão e outras questões de saúde em decorrência dos traumas.
Há brasileiras, portuguesas e mulheres de outras nacionalidades no coletivo. Suas histórias são diferentes, mas seus relatos têm muitos pontos em comum, que descrevem uma espécie de modus operandi: nos casos de assédio sexual, pesquisadoras visitantes, sobretudo “brasileiras e sul-americanas”, eram “alvos fáceis”. Havia um “padrão predatório” do professor, dizem. Ele “oferecia sexo como moeda de troca para uma ascensão de carreira”.
A mexicana Mariana Cabello tinha 29 anos quando conseguiu uma bolsa para um curso de verão no CES, em 2016. A programação fazia parte do Projeto Alice, dirigido por Boaventura. As aulas ocorreram em um hotel, onde os participantes dormiam e faziam refeições. “Fomos ver um documentário sobre direitos humanos. Havia cerca de 30 pessoas na sala. Boaventura sentou do meu lado”, conta. “Quando as luzes se apagaram, ele colocou a mão entre as minhas pernas, na minha virilha. ‘Fiquei em choque. Isso realmente estava acontecendo comigo?’, pensei. Ele continuou olhando para a frente, vendo o filme. Eu saí assustada”, relata.
Um grupo de estudantes próximos de Mariana conta que chegou a confrontar o professor. “Ele disse que, por conviver muito com pessoas latino-americanas, aprendeu a ser mais cálido e mais natural no contato físico”. Mariana contou que estava abalada e não conseguia mais acompanhar o curso. Passava a maior parte do tempo no seu quarto. No jantar de encerramento, então, ela o encontrou novamente.
“Ele me chamou para uma mesa onde estavam outros estudantes. Fiquei novamente em choque. Ele fez “love bombing1Lovebombing ou bombardeamento de amor é um comportamento apontado por psicólogos como comum em situações de abuso. Uma demonstração exacerbada de afeto do abusador para tentar manipular a pessoa que está a sofrer o abuso.”, dizendo como eu era superinteligente, criativa. Eu estava em pé, ao lado da mesa dele. Séria, em silêncio. Ele, sentado, pôs a mão na minha cintura, nessa posição ele ficou com a cara no meu peito”, conta. Ela não chegou a denunciar o comportamento do professor à organização ou prestar queixa. “Sabia que não ia acontecer nada com ele. Jamais voltei a ter contato com ele ou com o CES.”
“Eu tinha o sonho de ser professora, hoje mal consigo entrar em uma universidade”
Quase todas as sete pesquisadoras narraram “humilhações públicas” e “episódios de explosão de ira do professor”. Elas disseram que Boaventura de Sousa Santos “depreciava seus trabalhos de forma agressiva” durante reuniões. Mais de uma entrevistada citou comportamentos inapropriados como “reuniões na casa do professor, onde ele aparecia vestido apenas de robe ou de pijamas” e “fazia comentários de caráter sexual sobre seus corpos” durante os encontros de trabalho.
Todas citaram rotinas profissionais extenuantes no CES, que as deixariam vulneráveis ao ponto do total esgotamento físico, emocional e intelectual. Havia, segundo as pesquisadoras, uma tentativa recorrente do professor de controlar suas trajetórias profissionais e até suas vidas pessoais.
“Ele controlava nossa autonomia e assim bloqueava o nosso protagonismo acadêmico”, diz a pesquisadora e consultora independente brasileira Élida Lauris, 43 anos. Ela afirma que o assédio sexual foi o desfecho de uma relação profissional marcada por violências desde o princípio.
Élida chegou a Coimbra em 2005, aos 25 anos, para fazer doutorado. Em 2007, Boaventura foi convidado para palestrar no Ministério da Justiça brasileiro. Por seu conhecimento na área, ela foi chamada para produzir um documento sobre acesso à Justiça no Brasil. “Foi quando começou a relação de abuso de poder. Ele passou a me fazer pedidos de pesquisa de interesse dele, que eram um trabalho extra, isso sem reconhecer minha autoria nem acertar uma remuneração. Quando vi, estava presa em um sistema de servidão acadêmica do qual não conseguia sair”, conta.
As demandas de Boaventura aumentaram, diz a pesquisadora. Em 2011, o professor passou a dirigir um projeto global de pesquisa dentro do CES chamado de Projeto Alice, dedicado a estudar epistemologias do Sul dentro da Universidade de Coimbra, e recebeu financiamento milionário do prestigiado Conselho Europeu para a Investigação. Enquanto era bolsista do doutorado, Élida conta que se viu obrigada a suspender o trabalho com a tese, a pedido do professor, para trabalhar no Projeto Alice, onde ela tinha uma rotina de mais de dez horas diárias, pelas quais recebia apenas 250 euros.
“Recebia menos que todas as pesquisadoras, o que acho uma discriminação porque era a mulher brasileira lésbica da equipe”, diz. “Na prática, fui impossibilitada de terminar a tese e a minha bolsa de doutorado foi colocada a serviço das necessidades dele. Eu chorava todas as noites, vivia com tremores involuntários nas pernas”, lembra.
Segundo Élida, Boaventura dizia que “ela não conseguia concluir a tese porque estava desequilibrada emocionalmente”. “Eu estava preocupada em cumprir meu dever com as entidades que financiaram meus estudos”, conta. Ela levou oito anos para terminar o doutorado. Quando finalmente concluiu, decidiu deixar o Projeto Alice.
“No último jantar em equipe que participei com Boaventura, ele disse: ‘Você pode ter uma relação especial comigo porque, quando olho para você, quando vejo suas pernas… Nunca fiz nada porque você era casada’”, conta. “Trabalhei de forma servil e desumana. No final, ele me resumiu a um par de pernas. Eu saí de Portugal apenas com uma mala e nunca mais voltei. Meu casamento se desfez. Fiquei um tempo vivendo em casa de amigos”, lamenta.
Por causa dos traumas sofridos no CES, Élida diz que passou a ter ataques de pânico, dores crônicas e outros impactos psicológicos sentidos até hoje. “Tive que reconstruir uma nova carreira, começar tudo de novo. Eu tinha o sonho de ser professora, hoje mal consigo entrar em uma universidade.”
“Ele usava sexo como moeda de troca”
“Boaventura nos desviou do caminho que poderíamos ter percorrido”, diz a pesquisadora portuguesa Sara Araújo, 45 anos. “Ele não permitiu que nós atingíssemos o nosso potencial.” Ela entrou no CES com 21 anos e, ainda na graduação, passou a trabalhar com Boaventura. “Nós trabalhávamos com medo, havia uma tortura psicológica. Éramos reféns da obsessão por produtividade dele. Já não dormia, descuidei das minhas relações pessoais, minha vida era uma violência.”
Sara conta que, em uma reunião de equipe na casa do professor, ele começou a criticá-la agressivamente e acusá-la de defensiva quando ela tentava argumentar. De acordo com o seu relato, o professor teria pedido que todos deixassem a reunião para eles conversarem em particular e disse: “O problema que existe entre nós é que tu és a única mulher com quem eu tenho uma relação tão próxima que não tem caráter sexual. Porque tu me disseste uma vez que nunca na vida iria para a cama comigo”, diz a pesquisadora.
“Em outras palavras, ele estava dizendo que meu problema profissional era não ir para a cama com ele”, diz. “Quando percebi que ele usava o sexo como moeda de troca, entendi que minha carreira no CES tinha terminado ali. Depois disso, ele me excluiu da coordenação de todos os projetos em que tinha investido minha dedicação”, conta.
No ano passado, quando as acusações de assédio contra o professor surgiram na mídia, Sara ainda fazia parte do grupo de estudos coordenado por Boaventura. “Ele me mandou uma mensagem de voz dizendo: ‘Eu queria só desabafar um bocado contigo. Tens sido uma companheira e uma confidente nesta brincadeira. Pensei que já estava tudo superado”, lembra. “Estas mensagens ampliaram o meu sentimento de revolta sobre a violência sofrida no CES. O Boaventura achava que podia intimidar-me ao ponto de me instruir o que eu devia pensar sobre a violência.”
O aprendiz e a sentinela
O capítulo 12 do livro “Sexual misconduct in academia” (Condutas Sexuais Inapropriadas na Academia), lançado em março de 2023, traz denúncias de assédios que teriam sido praticados no CES. O texto assinado pelas pesquisadoras Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom chama-se “As paredes falaram quando ninguém se atreveu”, uma referência a pichações no muro da Universidade de Coimbra, com a frase “Fora Boaventura. Todas sabemos”.
O texto, que se refere a Boaventura como “professor-estrela”, cita também os professores Bruno Sena Martins e Maria Paula Meneses como “o aprendiz” e “a sentinela”. Eles são, de acordo com as pesquisadoras, “figuras centrais para entender as dinâmicas de poder relacionadas a Boaventura e ao CES”.
Bruno Sena Martins, “o aprendiz”, é citado como o braço-direito de Boaventura e seu protegido. A pesquisadora norte-americana Miye Nadya Tom, uma mulher indígena professora da Universidade de Nebraska nos EUA, que faz parte do Coletivo de Vítimas, acusa Bruno de abuso sexual. Ela fez a denuncia de abuso sexual tanto no artigo quanto em uma postagem nas suas redes sociais, mas não quis gravar entrevista.
No artigo, a professora Maria Paula Meneses é descrita como uma espécie de vigia de Boaventura. “Ela se sentia parte do sistema de poder. Se você a desagradasse, provavelmente seria repelida por ele”, explica Élida. A pesquisadora Aline Mendonça, 45 anos, trabalha com economia solidária. Em meados dos anos 2000, ela iniciou o doutorado em Coimbra. A boa relação que ela mantinha com Boaventura a princípio mudou em 2011, quando ela entrou no projeto Alice. “Ele foi tirando minha autonomia acadêmica. Eu era absolutamente ridicularizada em todas as reuniões.”
Ela diz que o professor nunca escondeu que a achava bonita. “Ele me dava uns beijos no rosto excessivamente molhados, uns abraços apertados. Um dia, me mandou um e-mail fazendo referência a poemas eróticos, dizendo que alguns tinham sido inspirados em mim”, lembra. “Disse que ele sempre teve desejo pelo meu corpo, sobretudo pelas minhas pernas. Fiquei muito nervosa. Passei a ter incontinência urinária pelo medo e pelo ambiente de pressão constantes”.
Testemunhas umas das outras
As pesquisadoras contam que também presenciaram assédios contra companheiras de trabalho. Entre 2013 e 2023, a professora brasileira Gabriela Rocha, 38 anos, que foi orientada academicamente por Maria Paula Meneses no CES, em Coimbra, diz que viu “Boaventura ser extremamente agressivo e impositivo com pessoas mais próximas”.
Eva Garcia Chueca, 44 anos, vice-ouvidora municipal em Barcelona, na Espanha, iniciou um doutorado em Coimbra em 2010. “No começo ele era educado, afável. Em 2011, quando assinei um contrato de trabalho com o CES, passou a ser intolerante e violento.”
“Eu sentia no meu corpo um medo constante, uma sensação de vulnerabilidade, de baixa autoestima. Sabia que a qualquer momento poderia ser a vítima daquelas violências que presenciava com outras pesquisadoras”, lembra. No doutorado, ela era constantemente criticada por “citar outros autores, que não Boaventura”. “No fim, não publicaram minha pesquisa. Não cumpriram nenhum dos compromissos assumidos”, diz.
Carla Paiva, 52 anos, pesquisadora sul-africana, também trabalhou no Projeto Alice, coordenado pelo professor português. Durante o trabalho no CES, ela conta que sofreu humilhações públicas por Boaventura. “Ele gritava, chamava nomes. Disse que eu não prestava para nada. Eu nunca tinha ouvido um professor dizer isso na minha vida, foi uma coisa tão chocante.”
Carla compara o poder de Boaventura na Universidade de Coimbra a uma espécie de “seita religiosa”, onde “todos os conceitos teóricos tinham que estar alinhados com os conceitos dele”. “Eu dizia que não queria ser discípula dele. Ele viu logo que eu não seria uma pessoa fácil de manipular”, avalia. Ela lembra que passava os fins de semana trabalhando, sem ver o sol, “me dedicando a tarefas administrativas do projeto de Boaventura enquanto meu doutoramento ficava para trás. Desenvolvi uma doença autoimune porque vivia com medo constante.”
Apesar de tanto esforço, com sete meses de trabalho, Carla conta que foi substituída sem explicações. Ela perdeu a bolsa e teve que morar de favor na casa de parentes por meses. Sem a possibilidade de finalizar o doutorado por questões financeiras, Paiva abandonou a vida acadêmica. Ela ainda mora em Portugal, mas fundou uma instituição voltada para a juventude.
“Passei muito tempo tentando sobreviver. Demora tempo para a gente conseguir respirar, sentir-se na própria pele depois dessas violências. Na verdade, vejo todas nós não como vítimas, mas como sobreviventes.”
No começo deste mês, o Diário de Notícias noticiou que Boaventura teria decidido voltar ao cargo que ocupava no CES e comunicado à própria direção do centro em reunião. A reportagem questionou o CES sobre a possibilidade de retorno do professor às suas funções, mas a nota que recebemos do centro não responde essa questão.
No último 24 de abril, o Coletivo de Vítimas de Boaventura se reuniu com o CES para uma reunião. As pesquisadoras foram informadas sobre a abertura de um processo de inquérito, que será conduzido por um investigador independente e um advogado. O Coletivo disse que vai colaborar com as novas investigações.
O Coletivo de Vítimas também se reuniu com a reitoria da Universidade de Coimbra, no dia 17 de abril. Na ocasião, o reitor, Amílcar Falcão, ofereceu solidariedade às vítimas, mas, de acordo com as pesquisadoras, informou “não ter poder de disciplinar o CES, que tem seus próprios estatutos e órgãos”. Para as pesquisadoras, a “universidade tem responsabilidade com as violações de direitos humanos contra suas estudantes”. Elas dizem que os seus “diplomas são provas suficientes de que elas foram alunas da Universidade de Coimbra” e que “não acham crível que o CES seja um caso isolado”.
O outro lado
Por nota, a Universidade de Coimbra confirmou que o CES “é uma associação privada, estatutária e juridicamente independente, não tendo a UC competência disciplinar no CES”. A Universidade disse que “condena veementemente todas as práticas de agressão física ou psicológica, violência ou assédio, exercendo uma atitude ativa, vigilante e pedagógica no que toca a situações de conduta imprópria.”
A entidade ressaltou que tem uma Carta de Princípios para a Igualdade, Equidade e Diversidade de um Plano para a Igualdade, Equidade e Diversidade e um Código de Conduta que explicita especificamente o que é assédio. Também que os mecanismos que permitem reportar os casos de assédio incluem os “diretores das unidades, os núcleos de estudantes, a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), um gabinete específico com a colaboração da AAC e do Provedor do Estudante, que foi criado com o propósito de defesa e promoção dos direitos de estudantes e que permite a denúncia ao abrigo do anonimato”.
Trabalhadores podem “recorrer à Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra” para denúncias. Desde junho de 2022, a universidade também oferece a plataforma denuncia.uc.pt, que permite a denúncia anónima e/ou com garantia de confidencialidade”.
Por nota, o Centro de Estudos Sociais (CES) confirmou que está “em curso um processo prévio de inquérito” para apurar eventuais irregularidades” e que “uma eventual abertura de processos disciplinares individuais depende dos resultados”.
O CES disse que está trabalhando em uma nova política institucional de prevenção e combate ao assédio e abuso. Até a implementação dessa política, a Provedoria do CES e o seu canal de denúncias estão em funcionamento.
Por e-mail, a Assessoria de Comunicação do professor Boaventura informou que a investigação independente realizada pelo CES “não imputou crimes nem faltas graves a nenhuma das pessoas denunciadas”, “nem mesmo em relação ao professor Boaventura, nem em relação à professora negra moçambicana, Maria Paula Meneses, nem também em relação ao pesquisador negro cabo-verdiano, Bruno Sena Martins”. Também que o professor “aguarda o desenlace processual no Ministério Público português para que possa apresentar a sua defesa e confrontar adequadamente as acusações, demonstrando, com provas, que não cometeu crime algum”.
Também por email, o escritório de advocacia que representa Boaventura no Brasil escreveu que “o nobre Professor, em seus 60 anos de carreira jamais respondeu qualquer processo ético disciplinar e vem, há mais de um ano, sofrendo um julgamento midiático sem jamais ter sido formalmente denunciado em âmbito administrativo ou judicial”.
Na carta, a defesa acrescenta, “o Sr. Boaventura, que tem serviços históricos prestados no campo dos direitos humanos, jamais, teve uma denúncia formalizada contra si, jamais teve acesso a um depoimento formalizado e há muito tempo vem sendo reiteradamente confrontado por meio de matérias jornalísticas, cartas apócrifas e informações imprecisas, sendo-lhe vedado o contrário e a ampla defesa, um caso característico de Lawfare.” A resposta completa está aqui.
A professora Maria Paula Meneses preferiu não comentar as acusações. Não tivemos retorno do professor Bruno Sena Martins até a publicação.
Este artigo foi originalmente publicado no site da Agência Pública e republicado na íntegra n’o largo. ao abrigo da licença Creative Commons CC BY-ND 4.0.