Para os russos que vivem no estrangeiro e denunciam a invasão da Ucrânia, uma nova bandeira simboliza a oposição a Putin

“Enquanto alguns veem a bandeira BSB como uma fácil negação de responsabilidade, a nova bandeira foi concebida (…) como uma recusa de derramar mais sangue.”
Homo Paparaccis CC BY-SA 4.0
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Uma bandeira branca-azul-branca é frequentemente mostrada de forma proeminente em manifestações anti-Putin e eventos de protesto online que ocorrem fora da Rússia. Qual é o significado desta bandeira alternativa à oficial branco-azul-vermelho?

Conhecida em russo como a “бело-сине-белый флаг” (ou “bandeira BSB” referindo-se às iniciais russas de branco-azul-branco), representa uma manifestação contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, embora a sua história seja anterior aos acontecimentos de 24 de Fevereiro.

Popularizada pelo designer russo Kai Kaytonina e pelo gestor de arte “Fish Sounds” (Звуки Рыб), faz referência à República Novgorod, um estado medieval que se desenvolveu na Rússia Ocidental entre os séculos XII ao XV. É um exemplo raro e bem conhecido de democracia limitada na história russa, uma vez que é ensinado no currículo escolar.

A razão por detrás da bandeira BSB é que ela remove a faixa vermelha inferior, que simboliza sangue, violência ou, para alguns, comunismo, e oferece um símbolo pacífico e não-imperialista aos russos que denunciam a invasão de Moscovo à Ucrânia e que querem construir uma sociedade e um Estado russo democrático e não colonial.

Historicamente, a bandeira branca-azul-vermelha era utilizada desde finais do século XVII pela Rússia czarista até ser banida na União Soviética após a Revolução Bolchevique de 1917. No entanto, ainda foi utilizada por emigrantes russos que rejeitaram a revolução. O tricolor foi reintegrado como bandeira nacional da Rússia em 1991.

Anton Litvin, um ativista russo radicado na República Checa, desempenhou um papel fundamental na popularização da bandeira do BSB em manifestações nas ruas de Praga. É um dos cofundadores do Comité Anti-Guerra de Praga (“Пражский антивоенный комитет“) e referiu à Global Voices porque é que é importante para os russos que vivem no estrangeiro e que se opõem a Putin terem a sua própria bandeira:

Os [russos] que não reconhecem a bandeira BSB são obviamente aqueles que não participam em manifestações na Europa e noutros locais. É óbvio que não podemos ir para manifestações com a mesma bandeira que está hasteada nas embaixadas russas e no Kremlin.

Anton Litvin

Alexey Sidorenko, chefe da ONG Teplitsa, que apoia o ativismo cívico na Rússia, partilha a opinião de Litvin numa entrevista à Global Voices:

Em 2014 [o ano da ocupação da Crimeia pela Rússia] senti que se tornou fisicamente impossível participar em manifestações na Europa sob a bandeira tricolor. Desde o tempo da ocupação de Donbass e da Crimeia, a bandeira russa tornou-se intimamente associada ao imperialismo, ao militarismo e à violência. Penso que muitos partilharam dessa opinião. O Anton Litvin começou a falar da necessidade de ter uma nova bandeira antes de todos os outros, mas nessa altura a sua ideia parecia demasiado radical. As coisas mudaram em 2022, na minha opinião.

Alexey Sidorenko

Sidorenko conclui que, enquanto alguns veem a bandeira BSB como uma fácil negação de responsabilidade – “acabámos de lavar o sangue, por isso o nosso trabalho está feito” (“стёрли кровь и все”) – ele acredita que a nova bandeira foi concebida não para ignorar o sangue que já foi derramado, mas antes como uma recusa de derramar mais sangue ou de aceitar a violência como um valor para a Rússia.

Licença Creative Commons

Este artigo, escrito por Filip Noubel, foi originalmente publicado no site Global Voices Online e republicado em português de Portugal n’o largo ao abrigo da licença Creative Commons CC BY 3.0.

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