O cerco da Rússia aos meios ocidentais continua. E esta semana conheceu um novo episódio: a Euronews e a plataforma Google News estão bloqueadas ou o seu acesso está bastante restringido em território russo. A razão? A nova lei que contra notícias que o regime considere falsas.
Euronews espalha informações “falsas” e apelos a manifestações não autorizadas, diz o regulador russo
O bloqueio do canal pan-europeu de notícias aconteceu na passada segunda-feira. As autoridades russas bloquearam o sinal e os sites de todas as edições da Euronews. O motivo? Notícias falsas.
Segundo a agência estatal de notícias russa TASS, o canal estaria foi bloqueado pelo regulador dos media russo, a Roskomnadzor, após a solicitação do procurador-geral russo: “O canal estrangeiro de comunicação social tem vindo a difundir sistematicamente informações falsas […] sobre a operação militar especial das forças armadas russas e apela a manifestações (públicas) não autorizadas“, refere o regulador citado por aquela agência.
A resposta do lado da Euronews foi de condenação. Num extenso comunicado em inglês, a estação de televisão classifica esta ação de “censura inaceitável” e “rejeita veementemente as alegações de “notícias falsas” e de apelo aos cidadãos a protestar”, frisando que “não recebeu qualquer comunicação oficial” de que o sinal tinha sido bloqueado em território russo.
Na mesma tomada de posição, a Euronews apelou às autoridades russas para que seja desbloqueado o sinal, citando a Declaração dos Direitos Humanos. Caso a emissão não volte a ficar disponível, a Euronews planeia avançar com um processo em tribunal.
Apesar de tudo, a edição russa da Euronews manter-se-á disponível na internet, estando acessível através duma VPN. E o canal está já a estudar outras formas de fazer chegar o sinal ao público russo.
Google News fornece acesso a conteúdos com informações falsas, diz o regulador russo
A plataforma da gigante de pesquisas norte-americana também foi bloqueado em território russo. A decisão do regulador russo foi posta em prática esta quinta-feira.
Os utilizadores não conseguem aceder aos conteúdos através do site ou da aplicação mobile do Google News ou acedem a esses conteúdos com dificuldades, segundo nota a empresa à Euronews Next. “Isto não se deve a quaisquer questões técnicas da nossa parte”, garante a empresa.
A justificação da Roskomnadzor é muito similar à que foi usada para o bloqueio da Euronews: o serviço “permite o acesso a materiais com informação não confiável sobre o curso da operação militar especial na Ucrânia”, refere a agência russa.
Disponibilizar conteúdos da agência russa “não está alinhado” com os principios da Reuters, diz presidente
Já esta terça-feira, a agência TASS viu-se excluída do serviço Reuters Connect, da agência britânica de notícias Reuters.
O serviço permite aos subscritores ter acesso a notícias e conteúdos de vários órgãos de comunicação social mundiais. A parceria com a Tass permitia a disponibilização de “notícias de última hora e vídeos exclusivos” sobre a atualidade, “o Kremlin e o presidente russo” nesta plataforma. Com a guerra na Ucrânia, a parceria, que já era contestada internamente, começou a ser alvo de protestos nas redes sociais. Numa reportagem do jornal norte-americano POLITICO, alguns jornalistas da Reuters reforçavam isso mesmo: “Foi uma vergonha quando a parceria foi assinada há dois anos. Agora, está simplesmente errado e o silêncio da cúpula é preocupante“, referiu um dos repórteres que não foi identificado na reportagem.
Numa primeira reação, o presidente executivo interino da Reuters Matthew Keen esclareceu que “a redação funciona de forma independente de quaisquer acordos da Reuters Connect”. Mas esta quarta-feira, numa nota enviada à equipa da agência, Keen voltou atrás e considerou que “disponibilizar o conteúdo da Tass no Reuters Connect não está alinhado com os Princípios de Confiança da Thomson Reuters”.
A TASS ainda não reagiu oficialmente. A agência de notícias russa tem sido muito criticada por meios de comunicação social ocidentais pela forma como tem feito a cobertura no conflito na Ucrânia, sendo acusada de fazer propaganda e de espalhar informações falsas.