Russia Today pode ser suspenso em França

Canal enfrenta pressão a nível europeu contra o que se diz serem os seus conteúdos de “propaganda” do Kremlin.
Russia Today pode ser suspenso em França
Benoît Prieur (CC-BY-SA)
Este artigo foi publicado há, pelo menos, 3 anos, pelo que o seu conteúdo pode estar desatualizado.

O canal de informação russo Russia Today (RT)pode ver a sua emissão suspensa em território francês, à semelhança do que já acontece na Alemanha. O pedido de suspensão surge na sequência da operação militar russa na Ucrânia, lançada na madrugada desta quinta-feira.

Segundo nota o jornal francês Le Figaro, o presidente da Comissão de Cultura do Senado francês Laurent Lafon enviou uma carta ao presidente da “Autorité de Régulation de la Communication Audiovisuelle et Numérique” (ARCOM – Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital, o equivalente francês da Entidade Reguladora para a Comunicação Social) Roch-Olivier Maistre, pedindo que a emissão da RT seja suspensa: “É urgente questionarmo-nos sobre a ameaça que este órgão de comunicação do governo russo representa aos nossos valores democráticos à luz da nova situação criada pela eclosão das operações militares na Ucrânia”, sustenta o senador.

Lafon vai mais longe e considera que o canal e o site, que tem uma versão em francês sob o nome RT France, transmitem “diariamente” informações que considera serem “ações de propaganda” do Kremlin, sem “contraditório real”.

Mas suspender não é assim tão fácil…

Para que o regulador francês possa avançar com uma suspensão da emissão do canal, tem de abrir um processo de averiguação e encontrar incumprimentos no protocolo assinado entre a ARCOM e a estação russa.

O senador considera que esses incumprimentos existem. A começar, desde logo, pela ausência de pluralismo de opiniões nas emissões: “Observo que esse acordo se refere à exigência de honestidade dos programas. Questiono, à luz dessas obrigações, que o serviço Russia Today nunca dê voz à oposição na Rússia e nem realize nenhum trabalho que consista em questionar o povo russo sobre as decisões tomadas pelos seus líderes, em particular, esta decisão de atacar a Ucrânia. Este serviço também se abstém de destacar as consequências desastrosas desta agressão nas populações civis ucranianas”, refere o senador.

Além disso, para Lafon, o canal é uma “ameaça”, usando da liberdade de comunicação consagrada na lei: “O exercício desta liberdade pode ser limitado a fim de assegurar o respeito de certos princípios essenciais, incluindo a dignidade da pessoa, o caráter pluralista da expressão de correntes de pensamento e opinião, a proteção das crianças e adolescentes, a salvaguarda da ordem pública e das necessidades da defesa nacional. Acredito que a propaganda veiculada pelo Russia Today ameaça todos esses princípios e justifica plenamente a suspensão deste serviço“, frisa.

Por seu turno, o regulador francês já veio dizer que tem uma vigilância “constante” sobre a estação de televisão e que vai intervir “se for constatada uma violação”.

Esta ameaça surge num momento em que Russia Today foi banida da Alemanha e o governo britânico pediu o regulador que reveja a licença atribuída à edição em inglês. Em retaliação, Moscovo fechou a delegação da Deutsche Welle, a estação pública alemã de rádio e televisão, e ameaçou a BBC com o mesmo destino: “Se o Reino Unido cumprir a sua ameaça aos media russos, não demorarão a chegar medidas de retaliação”, afirmou Maria Zakharova, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

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