É dia de dar o Pito em Vila Real

É dia de dar o Pito em Vila Real
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Em Vila Real, no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, é também o dia do “Pito”.

Manda a tradição que as raparigas solteiras ofereçam o “Pito”, um doce conventual, aos rapazes solteiros para que estes, em fevereiro, no dia de S. Brás, retribuam com a “Gancha”, um rebuçado em forma de bengala.

O nome do doce ninguém sabe de onde vem, mas a malícia popular tratou de lhe dar uma conotação “picante” e “brejeira” que tem mantido a tradição bem viva até aos dias de hoje.

Em Vila Nova, freguesia de Vila Real, a Santa Luzia espera pelos romeiros para cumprirem as suas promessas à protetora dos olhos. Na Praça do Município, a festa faz-se com a venda e mostra do “pito” pelas pastelarias da cidade.

Foi no Convento de Santa Clara que a “trouxa” recheada com abóbora se moldou nas mãos de uma noviça vilarealense, corria o ano de 1602, segundo reza a história. Maria Ermelinda Correia de seu nome, provinha de famílias humildes. Ingressou no convento como criada, tomou o hábito de noviça e posteriormente tornou-se irmã Imaculada de Jesus.

Ao longo dos tempos vão surgindo várias versões de uma mesma história, mas, lá diz o ditado: “quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”.

Do “pito” conta-se que contraria a tradição de todos os doces conventuais, por ser feito de uma massa “churra”, como se diz na Bila, que depois é recheada com doce de abóbora e canela. A forma grosseira a fazer lembrar uma “trouxa” …. explica-se mais à frente.

Acredita-se que o “Pito” se transformou num marco do dia 13 de dezembro pelo facto da freira ser devota de Santa Luzia, protetora dos cegos e padroeira das maleitas da vista.

E vem daí a explicação para a forma do doce.

A freira tinha por costume ajudar pessoas doentes, fazendo curativos, nomeadamente a inchaços nos olhos com “pachos de linhaça”. Que é como quem diz, colocar uma papa nuns quadrados de pano, dobrando as pontas para o centro e colocando-os nos ferimentos à semelhança de pensos.

Foram estes “pachos” ou “trouxas” que inspiraram os Pitos da “gulosa” Maria Ermelinda. Certa manhã, na cozinha, fez uma massa com farinha, cortando-a em pequenos quadrados e recheando-os com compota de abóbora e canela. Dobrou as pontas para o centro e levou ao forno. Depois de cozidos rumou à sua cela, mas… pelo caminho cruzou-se com a Madre Superiora que lhe perguntou o que ela levava. Prontamente respondeu: “pachos de linhaça para os meus doentes”.

Há muito que o Pito deixou de ser exclusivo do dia 13 de dezembro. Agora confeciona-se todo o ano mantendo, contudo, o processo artesanal. Naturalmente as vendas aumentam por ocasião da festa de Santa Luzia, com as raparigas a oferecerem o Pito aos rapazes cumprindo e mantendo a tradição.

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